Em uma entrevista concedida ao Brasil de Fato em abril de 2025, o jornalista Elmar Bones da Costa, fundador do jornal independente Jornal Já, descreveu o Brasil como um "deserto de notícias". Ele destacou que mais da metade dos municípios brasileiros não possui veículos de imprensa locais, o que compromete a cobertura jornalística de temas regionais e enfraquece a democracia.

Concentração midiática e herança da ditadura

Bones argumenta que a atual estrutura da mídia brasileira é uma herança direta do período da ditadura militar. Durante aquele regime, diversos jornalistas foram perseguidos e censurados, levando ao surgimento de uma imprensa alternativa composta por mais de 30 jornais, como Pasquim, Movimento e Coojornal. Essas publicações abordavam temas evitados pela grande mídia, como tortura e anistia aos exilados políticos. No entanto, o governo da época implementou estratégias para eliminar esses veículos, incluindo cerco fiscal, intimidação e prisão de editores. Bones ressalta que a grande imprensa permaneceu distante dessas ações repressivas.

Oligopólio e falta de diversidade

Atualmente, segundo Bones, a mídia brasileira é dominada por um oligopólio alinhado ao poder econômico, o que limita a diversidade de narrativas e impede a pluralidade de vozes. Ele critica a concentração de verbas públicas e privadas em poucos grupos de comunicação, o que inviabiliza a existência de veículos independentes e locais. Essa concentração midiática dificulta o acesso da população a informações relevantes sobre suas comunidades.

Papel da imprensa na democracia

Bones também questiona o papel da grande imprensa em momentos cruciais da democracia brasileira. Ele afirma que uma imprensa verdadeiramente democrática não teria participado da "sórdida conspiração" que resultou no impeachment da presidenta Dilma Rousseff, nem teria alimentado a Operação Lava Jato com manchetes baseadas em vazamentos ilegais. Para ele, a mídia hegemônica contribuiu para a instabilidade política ao priorizar interesses econômicos sobre a ética jornalística.

Importância do jornalismo local

O jornalista enfatiza a necessidade de fortalecer o jornalismo local e independente como forma de combater os "desertos de notícias". Ele acredita que a democratização da informação é essencial para o fortalecimento da cidadania e da democracia no Brasil. Bones defende políticas públicas que incentivem a diversidade midiática e garantam o acesso da população a informações de qualidade sobre suas realidades locais.