No território da Faixa de Gaza, a situação dos serviços de saúde atingiu níveis dramáticos — e os pacientes aguardam tratamento em longas filas, muitos em condições que agravam os danos feitos por ferimentos ou doenças que, em circunstâncias normais, teriam maior chance de cura.
Funcionamento reduzido das unidades de saúde
Dos 36 hospitais existentes no território antes da escalada do conflito, cerca de apenas metade permanece parcialmente funcional. Muitas unidades estão danificadas ou completamente fora de uso.
Faltam leitos, equipamentos, combustível, medicamentos e pessoal qualificado — fatores que aceleram o desgaste dos poucos hospitais que ainda operam.
Em um dos grandes centros médicos, a unidade responsável por cirurgias acumulava 40 mil procedimentos adiados.
Além disso, em alguns hospitais ativos, a taxa de ocupação ultrapassava 200 % da capacidade normal de atendimento.
O dia a dia de quem espera tratamento
O caso de um jovem de 14 anos, lesionado na coluna em ataque aéreo, ilustra a profundidade do problema: mais de um mês de espera para cirurgia em meio à dor, imobilidade parcial e incerteza.
Em outro exemplo, um homem ferido na perna foi liberado para buscar água e alimento apesar da fratura, porque o hospital não tinha condições de atendê‑lo em tempo adequado — o atraso já levou à piora das lesões, com risco de amputação.
Médicos relatam que precisam decidir “quem será operado primeiro” em meio à limitação de recursos — escolha angustiante que muitos profissionais descrevem como a mais difícil de suas carreiras.
Impactos além dos ferimentos imediatos
Pacientes com ferimentos que exigiriam tratamento urgente vêm tendo prognósticos piores: infecções, amputações, avanço de câncer ou falha no tratamento de doenças crónicas.
Uma clínica de nefrologia denunciou que máquinas de diálise foram reduzidas e muitos pacientes grave ficaram sem acesso ao tratamento.
A falta de medicamentos, de anestesia, de cuidados pós‑operatórios e de condições mínimas de higiene faz com que o índice de complicações suba muito — especialistas falam até de “infecções resistentes a antibióticos” em ambiente hospitalar.
A travessia para fora de Gaza quase inviável
Além da dificuldade interna, milhares de pacientes que deveriam ser encaminhados para tratamento em outros países permanecem presos no território. Estimativas citam até 12 000 pessoas que precisam evacuação médica urgente e que praticamente não obtêm saída.
Organismos internacionais pedem a abertura plena de corredores humanitários, remoção de entraves à entrada de suprimentos e evacuação de doentes graves, como crianças e pacientes oncológicos.
O que é necessário agora
Para reverter o agravamento da crise são apontadas três frentes principais:
Garantir a entrada ininterrupta de combustível, medicamentos, oxigénio, material cirúrgico e outros insumos médicos.
Aumentar o número de leitos hospitalares operacionais e reabilitar os que foram danificados ou paralisados.
Permitir evacuações médicas rápidas e seguras, dentro e fora da faixa de Gaza, para casos que não podem ser tratados localmente.
A crise nos hospitais de Gaza representa não apenas a falência de infraestrutura — é, antes de tudo, uma falha no tempo: no tempo que separa o dano do tratamento, na janela em que se salva a vida ou se evita uma piora irreversível. Até que essas respostas cheguem, muitos seguirão enfrentando dor e risco enquanto esperam.
Fonte: Reuters; Organização Mundial da Saúde; The Bureau Investigates.
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